quinta-feira, 29 de julho de 2010

25 de Julho Dia da Mulher Negra Afro-latino-americana e caribenha

No último domingo, 25 de julho celebrou-se o Dia da Mulher Afro-latino- americana e Caribenha. O poema a seguir fala um pouco da trajetória dessas mulheres sempre presentes na caminhada para a superação das dificuldades.

NEGRA

Para Gizelda

Sou mulher

Sou Negra.

Escura como a noite.

Escura como o Nilo, jorrando ondas de negralma.

Fui escrava.

Como mucama limpei o caminho dos meus senhores.

Fui corpo, sangue, orifício para o prazer do outro.

Fui operária, doméstica, lavadeira...

Negrimaculei a alvazia sociedade.

Costurei o rasgo da invisibilidade.

Subi o morro:

Favela de São Jorge.

Lá no alto, fui pássaro... Cantei.

Da África para o mundo

Mostrei minha voz humilhada,

porém, no ritmo do tambor,

forte.

Fui vítima

da minha cor, do meu sexo.

Muitas portas fechadas.

Fui guerreira e acordei

No meio da noite... tiroteios

São Jorge havia liberado o dragão.

Cuspes de fogo tentaram queimar meus sonhos.

Resisti...

Sou mulher

Sou Negra

Sou pobre

Sou história.

Escura como a noite.

Escura como o Nilo, jorrando ondas de

negralma.


Serafina Machado

(in Cadernos Negros 29)

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